Beltrame: Controle total sobre cada passo dos policiais
Rio - O sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora ganhou um novo capítulo na agenda do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Ele já elegeu as novas metas para fazer do Rio de Janeiro a capital da paz durante os jogos da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016): equipar batalhões e delegacias com tecnologia capaz de aperfeiçoar o atendimento do 190, baixar o índice de criminalidade e vigiar a tropa em tempo real.
“O policial tem que prestar serviço. Tem que ver a sociedade como cliente” | Foto: Deise Rezende / Agência O Dia
Adepto das novidades digitais, ele estuda implantar GPS nos radiotransmissores dos PMs e instalar ponto biométrico para fiscalizar a escala de plantão. E planeja substituir os gladiadores pelos prestadores de serviço à sociedade. O primeiro passo já foi dado: vai alterar a grade curricular das academias das polícias Civil e Militar. Quer mais aulas de humanas e sociais e menos de burocracia.
“Por que 12 horas de aula só para ensinar a preencher um boletim?”, atesta o secretário, que espera dificuldades ao implantar as UPPs na Rocinha e Manguinhos: “As próximas serão as mais difíceis”.
O DIA: As UPPs foram o grande fenômeno da gestão do senhor no primeiro governo de Sérgio Cabral. Qual será a marca destes próximos quatro anos?
BELTRAME: A tecnologia da informação e a educação farão a diferença a partir de agora. É preciso entender que o policial era preparado para ir à guerra, agora ele tem que prestar serviço. Queremos o policial que tenha a população como cliente. Que saiba atender o asfalto e a comunidade.
BELTRAME: A tecnologia da informação e a educação farão a diferença a partir de agora. É preciso entender que o policial era preparado para ir à guerra, agora ele tem que prestar serviço. Queremos o policial que tenha a população como cliente. Que saiba atender o asfalto e a comunidade.
Então, a atenção estará nas academias das polícias Civil e Militar?
BELTRAME: Trouxe a equipe de educação do Balestreri (Ricardo Balestreri, ex-secretário Nacional de Segurança Pública) para rever a carga horária e as disciplinas. Não podemos ter 12 horas de aula para ensinar o aluno a preencher um Brat (Boletim de Acidente de Trânsito).
BELTRAME: Trouxe a equipe de educação do Balestreri (Ricardo Balestreri, ex-secretário Nacional de Segurança Pública) para rever a carga horária e as disciplinas. Não podemos ter 12 horas de aula para ensinar o aluno a preencher um Brat (Boletim de Acidente de Trânsito).
Alguma disciplina em especial vai fazer parte da nova grade dos recrutas?
BELTRAME: Pretendo ter mais disciplinas das áreas humanas e sociais. Já estamos pagando a hora-aula para os professores. Estudamos para prestação de serviço e existem práticas de polícia-cidadã que pretendo ver nas academias.
É o passo para reduzir o número de policiais com fuzis nas ruas e aumentar o uso de armas não letais?
BELTRAME: No momento em que pacifico, que derrubo muros impostos por armas de guerra, por que eu, que estou pacificando, vou usar armas de guerra? Temos que desarmar. E não é tirar a arma do policial. É dar mais uma opção. O fuzil pode ficar na viatura, por exemplo. O foco está no treinamento, na capacitação do policial.
Mas o policial vai entrar com arma não letal em áreas conflagradas?
BELTRAME: Evidente que não. Vai ter o Bope, vai ter a Core para as ocasiões especiais. Hoje você tem essas forças nas ruas quase que diariamente. Para as missões em áreas conflagradas, vamos usar as forças especiais, como a Swat (polícia especial americana). Esses policiais terão todas as armas.
Essa mudança já alterou as compras da secretaria?
BELTRAME: Tinha 12 blindados para comprar. O projeto de análise foi aberto, o pessoal estava planejando, correndo o mundo vendo blindados, que é um veículo adaptado. Mas não vou mais atrás deles, não vou comprar.
É a aposentadoria dos caveirões?
BELTRAME: É que não preciso de mais. Os que têm, atendem à necessidade. Se precisar, o estado tem o apoio da Marinha, que nos empresta os veículos. Acho que devemos mudar como olhamos o crime. É a história de você entrar na área do inimigo. O cara não é teu inimigo. Isso não é guerra. O cara é um cara que está à margem da lei.
Mas o tráfico ainda domina várias comunidades, como a Rocinha?
BELTRAME: Tenho dito que as próximas UPPs não são fáceis. A Rocinha planejamos, mas ainda não é o tempo. O Alemão (Complexo do Alemão) atravessou no caminho e não podíamos perder a oportunidade. Seria um trauma fazer a invasão uma vez e fazer depois de novo. Então antecipamos e, de certa forma, a gente ganhou o Alemão. Mas a Rocinha ficou para trás e outros lugares também, como a Mandela e Manguinhos, onde tem muito investimento público.
Então, essas são as áreas das próximas UPPs?
BELTRAME: A Mangueira fecha um trecho, mas ainda não há prazo. Estamos preparando 2 mil homens para colocar no Alemão. As outras ainda estamos planejando.
O senhor elegeu a tecnologia como a sucessora da UPP. Ela já auxilia a reduzir o crime?
BELTRAME: Já temos algumas ferramentas testadas e vamos ofertar para os comandantes de batalhão. Eles poderão acompanhar em tempo real, pelo computador, desde a chamada do 190 até o registro na delegacia, saber cada passo da equipe na rua, quantos minutos uma viatura levou para atender a ocorrência. Podem planejar as ações, terão as manchinhas para mostrar onde deve ficar o patrulhamento.
Mas está funcionando?
BELTRAME: Vou reunir os comandantes esta semana para apresentar a eles o observatório (rede desenvolvida pelo Instituto de Segurança Pública). Ele não vai ajudar apenas no patrulhamento. A tecnologia também vai ajudar a fiscalizar, a controlar.
A tecnologia vai controlar a tropa nas ruas?
BELTRAME: Claro. Vamos ter uma rede online, de maneira que você tenha no batalhão um registro de armas e saiba quem saiu com as armas e que tipo de armas cada um está usando. Isso na tela do computador. Assim, o comandante pode decidir se aquela viatura, com aqueles policiais, é a mais indicada para ser deslocada para a ocorrência. Além do controle das armas.
Há falhas no controle?
BELTRAME: O policial chega ao batalhão às 10h, pega duas pistolas, um bastão, spray de pimenta, dois carregadores, assina lá um termo no sebo e sai. Tem que ter controle, tem que botar o dedo (ponto com controle biométrico) para saber se está de plantão. Temos que ter um GPS nos radiotransmissores dos policiais para ver o que eles estão fazendo, para saber o que o policial foi fazer lá... Foi pegar pizza? Os carros já têm GPS, agora vamos ver o dos rádios. O comandante vai saber onde estão os homens dele na cidade.
O baixo salário pago aos policiais não serve de incentivo à corrupção?
BELTRAME: A corrupção existe não só por causa do salário, mas por falta de controle. Hoje, a fiscalização é feita pelo supervisor. Ele pega um carro e visita o primeiro posto. No segundo, o primeiro já avisa: ‘Olha, ele passou aqui’. Se só combate resolvesse, não haveria mais milícia.
O senhor acha que existe prazo de validade para os gestores de delegacias e batalhões?
BELTRAME: Um ano no comando está bom. Se ele foi bem no Leblon, porque ele não pode ser bom também em Japeri, em Itaperuna? Comandante de batalhão tem que ter um teto: um ano está mais do que bom. Ele não pode criar limo.
O sucesso das UPPs ajudou as comunidades?
BELTRAME: A UPP é a criação de um ambiente. Agora cabe à sociedade criar as perspectivas. A polícia fez o trabalho dela e agora espera a participação da iniciativa privada. Vejo as empresas patrocinando vários eventos, mas elas não financiam projetos nas comunidades. Antes, os empresários apareciam e reclamavam da violência. Agora não participam.
Mas há empresas ajudando nas comunidades...
BELTRAME: Mas são poucas. Algumas dizem que querem ajudar, mas que só podem às quartas e à tarde. Não podem ter restrições. Veja o bom exemplo da Light, na Providência: os moradores queriam um curso, mas só podiam de madrugada. Ela alterou o horário e montou o curso. A sociedade tem que dar perspectivas para aquelas pessoas, tem que investir nas favelas para ensinar, para empregar os jovens.
BELTRAME: Pretendo ter mais disciplinas das áreas humanas e sociais. Já estamos pagando a hora-aula para os professores. Estudamos para prestação de serviço e existem práticas de polícia-cidadã que pretendo ver nas academias.
É o passo para reduzir o número de policiais com fuzis nas ruas e aumentar o uso de armas não letais?
BELTRAME: No momento em que pacifico, que derrubo muros impostos por armas de guerra, por que eu, que estou pacificando, vou usar armas de guerra? Temos que desarmar. E não é tirar a arma do policial. É dar mais uma opção. O fuzil pode ficar na viatura, por exemplo. O foco está no treinamento, na capacitação do policial.
Mas o policial vai entrar com arma não letal em áreas conflagradas?
BELTRAME: Evidente que não. Vai ter o Bope, vai ter a Core para as ocasiões especiais. Hoje você tem essas forças nas ruas quase que diariamente. Para as missões em áreas conflagradas, vamos usar as forças especiais, como a Swat (polícia especial americana). Esses policiais terão todas as armas.
Essa mudança já alterou as compras da secretaria?
BELTRAME: Tinha 12 blindados para comprar. O projeto de análise foi aberto, o pessoal estava planejando, correndo o mundo vendo blindados, que é um veículo adaptado. Mas não vou mais atrás deles, não vou comprar.
É a aposentadoria dos caveirões?
BELTRAME: É que não preciso de mais. Os que têm, atendem à necessidade. Se precisar, o estado tem o apoio da Marinha, que nos empresta os veículos. Acho que devemos mudar como olhamos o crime. É a história de você entrar na área do inimigo. O cara não é teu inimigo. Isso não é guerra. O cara é um cara que está à margem da lei.
Mas o tráfico ainda domina várias comunidades, como a Rocinha?
BELTRAME: Tenho dito que as próximas UPPs não são fáceis. A Rocinha planejamos, mas ainda não é o tempo. O Alemão (Complexo do Alemão) atravessou no caminho e não podíamos perder a oportunidade. Seria um trauma fazer a invasão uma vez e fazer depois de novo. Então antecipamos e, de certa forma, a gente ganhou o Alemão. Mas a Rocinha ficou para trás e outros lugares também, como a Mandela e Manguinhos, onde tem muito investimento público.
Então, essas são as áreas das próximas UPPs?
BELTRAME: A Mangueira fecha um trecho, mas ainda não há prazo. Estamos preparando 2 mil homens para colocar no Alemão. As outras ainda estamos planejando.
O senhor elegeu a tecnologia como a sucessora da UPP. Ela já auxilia a reduzir o crime?
BELTRAME: Já temos algumas ferramentas testadas e vamos ofertar para os comandantes de batalhão. Eles poderão acompanhar em tempo real, pelo computador, desde a chamada do 190 até o registro na delegacia, saber cada passo da equipe na rua, quantos minutos uma viatura levou para atender a ocorrência. Podem planejar as ações, terão as manchinhas para mostrar onde deve ficar o patrulhamento.
Mas está funcionando?
BELTRAME: Vou reunir os comandantes esta semana para apresentar a eles o observatório (rede desenvolvida pelo Instituto de Segurança Pública). Ele não vai ajudar apenas no patrulhamento. A tecnologia também vai ajudar a fiscalizar, a controlar.
A tecnologia vai controlar a tropa nas ruas?
BELTRAME: Claro. Vamos ter uma rede online, de maneira que você tenha no batalhão um registro de armas e saiba quem saiu com as armas e que tipo de armas cada um está usando. Isso na tela do computador. Assim, o comandante pode decidir se aquela viatura, com aqueles policiais, é a mais indicada para ser deslocada para a ocorrência. Além do controle das armas.
Há falhas no controle?
BELTRAME: O policial chega ao batalhão às 10h, pega duas pistolas, um bastão, spray de pimenta, dois carregadores, assina lá um termo no sebo e sai. Tem que ter controle, tem que botar o dedo (ponto com controle biométrico) para saber se está de plantão. Temos que ter um GPS nos radiotransmissores dos policiais para ver o que eles estão fazendo, para saber o que o policial foi fazer lá... Foi pegar pizza? Os carros já têm GPS, agora vamos ver o dos rádios. O comandante vai saber onde estão os homens dele na cidade.
O baixo salário pago aos policiais não serve de incentivo à corrupção?
BELTRAME: A corrupção existe não só por causa do salário, mas por falta de controle. Hoje, a fiscalização é feita pelo supervisor. Ele pega um carro e visita o primeiro posto. No segundo, o primeiro já avisa: ‘Olha, ele passou aqui’. Se só combate resolvesse, não haveria mais milícia.
O senhor acha que existe prazo de validade para os gestores de delegacias e batalhões?
BELTRAME: Um ano no comando está bom. Se ele foi bem no Leblon, porque ele não pode ser bom também em Japeri, em Itaperuna? Comandante de batalhão tem que ter um teto: um ano está mais do que bom. Ele não pode criar limo.
O sucesso das UPPs ajudou as comunidades?
BELTRAME: A UPP é a criação de um ambiente. Agora cabe à sociedade criar as perspectivas. A polícia fez o trabalho dela e agora espera a participação da iniciativa privada. Vejo as empresas patrocinando vários eventos, mas elas não financiam projetos nas comunidades. Antes, os empresários apareciam e reclamavam da violência. Agora não participam.
Mas há empresas ajudando nas comunidades...
BELTRAME: Mas são poucas. Algumas dizem que querem ajudar, mas que só podem às quartas e à tarde. Não podem ter restrições. Veja o bom exemplo da Light, na Providência: os moradores queriam um curso, mas só podiam de madrugada. Ela alterou o horário e montou o curso. A sociedade tem que dar perspectivas para aquelas pessoas, tem que investir nas favelas para ensinar, para empregar os jovens.
Acompanhamento em tempo real
Na reunião com os comandantes de batalhões, o secretário vai apresentar a última versão do observatório de análise criminal. Agora, os coronéis vão poder acompanhar a distribuição das viaturas nas ruas e o atendimento das ocorrências desde o chamado no 190 até o registro na delegacia. Tudo da tela de qualquer computador, em casa ou no batalhão, e em tempo real.
O novo observatório traz no mapa bem mais do que o posicionamento de viaturas e policiais. Indicará o armamento usado por cada um dos agentes e os dados da mancha criminal até o dia anterior. Contará não só as informações geradas pelo 190, mas também dos registros na delegacia.
Outra novidade é que na mesma tela do computador vão aparecer os dados das metas de avaliação de desempenho de cada unidade. “Isso vai garantir rapidez nas análises. Ninguém vai precisar esperar dias para obter as dados”, revela o tenente-coronel Paulo Augusto Teixeira, diretor-presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Para ajudar os comandantes dos batalhões a interpretar tanta informação, aspirantes recém-formados aprenderam na academia como usar as novas ferramentas.
Na reunião com os comandantes de batalhões, o secretário vai apresentar a última versão do observatório de análise criminal. Agora, os coronéis vão poder acompanhar a distribuição das viaturas nas ruas e o atendimento das ocorrências desde o chamado no 190 até o registro na delegacia. Tudo da tela de qualquer computador, em casa ou no batalhão, e em tempo real.
O novo observatório traz no mapa bem mais do que o posicionamento de viaturas e policiais. Indicará o armamento usado por cada um dos agentes e os dados da mancha criminal até o dia anterior. Contará não só as informações geradas pelo 190, mas também dos registros na delegacia.
Outra novidade é que na mesma tela do computador vão aparecer os dados das metas de avaliação de desempenho de cada unidade. “Isso vai garantir rapidez nas análises. Ninguém vai precisar esperar dias para obter as dados”, revela o tenente-coronel Paulo Augusto Teixeira, diretor-presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Para ajudar os comandantes dos batalhões a interpretar tanta informação, aspirantes recém-formados aprenderam na academia como usar as novas ferramentas.
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