Gonorreia: Brasil e outros 76 países têm bactéria resistente a antibióticos

No Brasil, de 6% a 30% das variantes bacterianas não respondem ao ciprofloxacino, uma das únicas três drogas existentes contra a enfermidade

 postado em 07/07/2017 06:00
 
  
Às vésperas do Congresso Mundial de DST e HIV, que começará no domingo, no Rio de Janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório alarmante. A bactéria causadora da gonorreia, doença sexualmente transmissível que afeta 78 milhões de pessoas anualmente, está se tornando cada vez mais resistente a antibióticos. Dados de 77 países mostram que em todos eles já foram detectadas cepas sobre as quais os remédios não têm mais ação.

Leia mais notícias em Ciência e Saúde

No Brasil, de 6% a 30% das variantes bacterianas não respondem ao ciprofloxacino, uma das únicas três drogas existentes contra a enfermidade. Não há dados nacionais sobre a azitromicina, e menos de 0,1% das estirpes resistem à cefalosporina de amplo espectro, a única ainda eficaz contra a gonorreia em muitas regiões do mundo. Em 26 países, esse percentual já ultrapassa os 5%, o que se configura uma situação de risco, segundo a OMS. Independentemente do nível de desenvolvimento econômico, todas as nações investigadas são afetadas de algum modo.

“Quando não tratada, a gonorreia tem muitas complicações, como doença inflamatória pélvica, gestação ectópica e infertilidade”, observou, em uma teleconferência de imprensa, Teodora Wi, do escritório de reprodução humana da OMS. Ela é um dos autores do estudo sobre a resistência da bactéria Neisseria gonorrhoeae, que causa a doença, publicado na revista Plos. “Essa é uma bactéria particularmente esperta. Cada vez que usamos uma nova classe de antibióticos para tratar a infecção, ela evolui de forma a se tornar resistente”, alertou.

De acordo com o artigo, entre 2009 e 2014, houve um aumento geral na resistência à penicilina, tetraciclina e ciprofloxacino; aumento de resistência à azitromicina e emergência de redução à suscetibilidade às cefalosporinas de amplo espectro. “Dos países que monitoram a suscetibilidade ao ciprofloxacino, à azitromicina e às cefalosporinas de amplo espectro, 97%, 81%, e 66%, respectivamente, descreveram cepas resistentes por ao menos um ano nesse período”, informou.

“Nós precisamos urgentemente de novos tratamentos com medicamentos existentes e em estudo. Em curto prazo, pretendemos acelerar o desenvolvimento e a introdução de ao menos uma dessas drogas em teste e avaliar a possibilidade da combinação de medicamentos para o uso na saúde pública”, disse, na teleconferência, Manica Balasegaram, diretor da Parceria Global para Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos, da iniciativa Drogas para Doenças Negligenciadas (DNDi). “Qualquer novo tratamento desenvolvido deve ser acessível a todos que precisam, enquanto se assegura o seu uso apropriadamente, de forma a reduzir ao máximo possível a resistência a essa droga”, completou.

Segundo Balasegaram, atualmente há somente três novas substâncias em algum estágio de desenvolvimento clínico. Duas dessas drogas também combatem outros tipos de bactérias e têm mostrado bons resultados nos testes. O especialista lembrou que a pesquisa de novos antibióticos, embora urgente, é pouco atrativa para farmacêuticas comerciais. “Os tratamentos são usados por um período curto, diferentemente de doenças crônicas, e se tornam menos efetivos à medida que a resistência se desenvolve, o que significa que há necessidade constante de repor esses remédios.”


Prevenção

A gonorreia pode ser prevenida pelo comportamento sexual seguro, particularmente o uso de preservativos. De acordo com o artigo da OMS, “hoje, a falta de atenção pública, de treinamento de profissionais de saúde e o estigma em torno de doenças sexualmente transmissíveis são barreiras para o uso amplo e mais efetivo dessas intervenções”. Não existem, atualmente, ferramentas de diagnóstico rápido da doença e, para complicar, muitas pessoas infectadas são assintomáticas, permanecendo sem tratamento. Por outro lado, a banalização dos antibióticos — em muitos países, eles são vendidos sem receita — faz com que algumas pessoas com sintomas se automediquem, aumentando o risco de a bactéria desenvolver resistência.

“Para controlar a gonorreia, precisamos de novas ferramentas e sistemas para melhor prevenção, tratamento e diagnóstico precoce, além de um rastreamento mais completo de novas infecções, do uso de antibiótico, da resistência e das falhas de tratamento”, escreveu, em nota, Marc Sprenger, diretor de Resistência Antimicrobiana da OMS. “Especificamente, precisamos de novos antibióticos, assim como testes mais rápidos, acurados e acessíveis — preferencialmente os que indiquem qual antibiótico vai funcionar naquela infecção particular — e, em longo prazo, uma vacina para prevenir a gonorreia.”

“Precisamos de novos antibióticos, assim como testes mais rápidos, acurados e acessíveis — preferencialmenteos que indiquem qual antibiótico vai funcionar naquela infecção particular — e, em longo prazo, uma vacina” Marc Sprenger, diretor de Resistência Antimicrobiana da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PROMESSA NÃO CUMPRIDA E PAIS E ALUNOS REVOLTADOS COM ESTRUTURA PRECARIA DE ESCOLA EM AGUAS LINDAS

No país campeão de cirurgia íntima, mulheres contam suas histórias

Após proibição, TV Diário consegue saída para exibir programas em rede nacional